História sem fim, nem graça, nem ninguém que perguntou sobre ela
O cenário principal se resume a eu de cueca, de bruços, numa sala fria com duas mulheres portando instrumentos perfurocortantes sem que eu pudesse vê-las.
Se não quiser perder seu tempo, não leia o resto.
Uma das pintas preocupou. Uma na perna. Na parte posterior da coxa.
Enfim(5)!
Tirei a calça. Dessa vez, diante da frieza procedimental, mantive o casaco.
Nesse momento entra a secretária dela. Que de secretária morfou e virou assistente.
_Vamos ter que cortar os pêlos da sua perna!
E cortou os pêlos da perna. E passou álcool. E fizeram piadinhas. E eu não entendi porra nenhuma.
Aquilo não se faz. Piadas inaudíveis atrás de alguém nessa situação? Eu tava de bruços, só de cueca, indefeso.
Na ocasião, só conseguia pensar na inefetividade das instituições que defendem os direitos humanos. Onde tava a Corte Interamericana de Direitos Humanos naquele momento? Por que diabos não há uma linha sequer sobre dermatologistas no Pacto de San Jose da Costa Rica?
Enfim(6)!
A funcionária híbrida colocou um óculos na médica. Agora a porra ficou séria - pensei.
Anestesia local. Indolor. Enquanto realizava o procedimento, apoiava o cotovelo na minha nádega esquerda.
A conversa também não ajudava.
_Você está sentindo uma picada ou só uma encostada?
_Picada!
_Agora?
_Picada.
_Agora?
_Encostada.
_Agora?
_Picada mais forte.
_Agora?
_Nada.
_E aqui atrás?
_Nada.
_Tá doendo?
_Não
Penso que não preciso discorrer sobre os perigos do isolamento desse diálogo.
Enfim(finalmente, caralho, fala pra cacete)!
Ir em um dermatologista pode ser um pouco constrangedor.
Se você não possui desenvoltura pra ficar de cueca e/ou calcinha na frente de alguém desconhecido ou nunca foi a um urologista/ginecologista e ficou conversando com o(a) médico(a) enquanto ele(a) manuseava o seu órgão sexual, não vá.
Deixe o câncer se desenvolver no seu corpo até a metástase.